segunda-feira, 12 de novembro de 2007

documentários...

Ônibus 174 é um dos melhores documentários que já vi. Foi a última palavra sobre o caso de um assalto a ônibus com reféns na cidade do Rio. Apartir daí interliga vários aspectos da violência no Brasil.
Nesse documentário são apresentadas diversas entrevistas e imagens intercaladas, construindo caminhos e levando, com a inteligência do espectador, a algumas conclusões. Outras questões são deixadas em aberto, como “um convite à reflexão necessária”, que apesar desse meu(?) chavão é outro grande mérito do filme. Fica evidente também a profundidade da pesquisa realizada.
O documentarista revela uma visão lúcida, na qual não aparecem idealizações ou pré-concepções. O argumento é tão forte e claro, que o filme pôde dispensar qualquer narrador – algo raro para um documentário de fôlego.

Exemplos como esse são difíceis de encontrar...
É muito fácil fazer documentários hoje em dia. É só ligar a câmera e mandar um cara falar. E se o cara for “uma figura”, os elogios são quase certos. Não há cortes. E a ladainha do documentado não serve como “recorte” de um contexto maior. O único trabalho é o de ligar e desligar a câmera ...se a fita não acabar antes. Na edição basta acrescentar o nome dos diretores/roteiristas(?) e todos os logotipos das leis de incentivo com dinheiro público.


Há outro filme que pretende “mostrar a realidade”, mas que não é nenhuma coisa de louco como tão falando. É um filme de ficção metido a documentário. A coisa mais explícita não são cenas de violência, são os diálogos “didáticos” (pior que novel das oito).
Este filme não deixa margem pro telespectador pensar, enxergar nada. Já está tudo “explicado” pelos discursos quase acadêmicos colocados na boca dos personagens marginalizados ou “de elite”, seja ela qual for.
Esta intenção é tão óbvia que, assim como muitos documentários, tem até um narrador para te explicar as coisas.
A fotografia também é metida a realista. Mas me pareceu interessante. O movimento da câmera como se fosse a cabeça do espectador virando rápido pra os diferentes interlocutores e focos de ação. Outras vezes lembra imagens jornalísticas vistas de vez em quando no Jornal Nacional da Globo – como o seqüestro ao ônibus 174 – e no pioneiro Aqui Agora do SBT. Imagens “mal” enquadradas e um foco vacilante, que não tem tempo de ajustar-se dão aquele clima tenso e imediato. Mas tenho quase certeza de que assisti ao filme inteiro com a imagem cortada de todos os lados e pode ser daí minha impressão de tanta mobilidade e enquadramentos imperfeitos.
Não vou ver de novo. É certo que a “versão do diretor” não é melhor que a versão pirata que me chegou antes.
O que Tropa de Elite e Ônibus 174 têm em comum? São obra do mesmo cineasta José Padilha.

Um comentário:

Tomacaúna disse...

Fabrício, na minha opinião, há mais em comum entre "Ônibus 174" e "Tropa de Elite". Não estou questionando o fato de que o filme passa para o grande público uma mensagem de legitimação da violência dos aparelhos repressivos.Porém, penso que a obra de José Padilha é bem mais rica do que isso.

Me lembrou "São Bernardo", de Graciliano Ramos, também contado em primeira pessoa, que dá apenas uma versão da história e provoca a identificação com o protagonista, mas que, mesmo assim, permite percebê-lo como sujeito passivo em um processo de desumanização.