terça-feira, 24 de julho de 2007

Estética Ecologista na Arquitetura

“pra entrar no meu quarto tem que passar pela sala”
Zeca Baleiro

Acredito que novas tecnologias, bem como novas filosofias, sempre acarretam no desenvolvimento de uma estética própria que as caracterizará.

O conceito de sustentabilidade ecológica está associado a uma Estética peculiar na Arquitetura do novo milênio.
Observo a união de técnicas antigas com as novas. É comum ver a arquitetura vernacular – utilizando pedras, tijolos e os materiais tradicionais – aliadas a diversos tipos de elementos atuais como painéis solares, teto verde, exaustores, sheds (aqueles “telhadinhos” de fábricas), chaminés, brises-soleil, marquises, abas, terraços-jardim, calhas, gárgulas (não o monstrinho, mas isto pode variar conforme o gosto!) reservatórios d’água da chuva... tudo isso em variadas formas e com muito estilo, dependendo, é claro, da sensibilidade do arquiteto.
Nessa arquitetura pode aparecer todo o tipo de artifício com funções de climatizar e poupar energia. Traduzindo assim os ideais (ou a canastrice) por trás do projeto.

As estéticas high-tech do surgidas no final do século passado (não faz tanto tempo assim) e as arquiteturas tradicionais e regionais aparecem com maior ou menor evidência nessas novas propostas.
Entretanto, neste ponto de vista, não é a mistura de qualquer coisa ou a simples preocupação com o planeta (ou o com bolso) que caracteriza essas obras, mas o conceito abstrato da estética.
É óbvio que muita gente vai vender e comprar (literal ou metaforicamente) essa
arquitetura como se faz com o sapato da moda. Mas não estou falando de bom gosto nem de boa consciência ecológica.

Materiais pouco agressivos ao meio-ambiente como tijolo aparente e madeira reflorestada são privilegiados não apenas na arquitetura residencial mas também em outros tipos de construção. Aí estão edifícios públicos e a Arquitetura Coorporativa: grande financiadora desta estética, tomando assim uma nova imagem de bom-mocismo e repassando-a ao ego dos consumidores.
Ao contrário da arquitetura consagrada até o final do séc. XX, os edifícios representantes dessa proposta estética apresentam variadas texturas obtidas tanto pelos critérios diversificados no emprego dos materiais utilizados quanto na composição das fachadas e volumes. As aberturas e as “paredes” são tratadas de forma estratégica, criando dinamismo e ritmo. Daí Identifico a rejeição das grandes fachadas de vidro – pouco importando a orientação solar – e dos monolitos (literalmente) de granito ou concreto.
Em muitos casos a vegetação é incorporada como parte fundamental no conjunto do sítio e do próprio edifício. Que tal “faturar” um maracujá ou cacho de uvas colhido da janela do escritório?
Em todos estes aspectos a Arquitetura parece querer se reaproximar do ser humano e da sua natureza telúrica, assim como fazer as pazes com a velha Pacha Mama (viajei!).
É incrível, mas precisou o Al Gore com toda aquela pinta de yuppie falar “umas verdades inconvenientes” pra questão ecológica ter visibilidade. Quem ia dar bola para uns vagabundos ecologistas?
Cabe agora darmos uma fachada (no bom sentido!) bonita a essas idéias.

O traço comum que destaco é a incorporação das funções ecológicas e de sustentabilidade na busca de uma Estética própria, intimamente ligada a esses conceitos e não apenas de um estilo a ser reproduzido.
Nessa busca não basta construir edifícios “inteligentes” ou que se use corretamente conhecimentos técnicos para poupar energia, recursos naturais e também financeiros, que ninguém é besta! Deve haver o interesse em evidenciar ou tirar partido desses elementos arquitetônicos no resultado visível da obra.

A contemponiedade é importante à arquitetura enquanto arte e também enquanto técnica. Com o desenvolvimento do capitalismo em sua fase atual, a utilização apenas das técnicas ancestrais é insustentável social e economicamente.
Creio que as questões de custo devam ser integradas à esta construção física e ideológica de arquitetura. Mas ao invés de limitarem deverão agregar valor ao resultado estético final. Até porque o fator grana implicará no fôlego e na própria capacidade de difusão desta arquitetura. Aí também se encaixa a idéia de Sustentabilidade. Neste caminho devem ser constantemente equilibrados os aspectos econômicos, qualitativos e estéticos dos projetos.
(Se você leu até aqui e ainda pensa que “estética” é só uma palavra fresca para “beleza” sugiro que comece de novo ...ou procure um dicionário.)

Os mais famosos arquitetos que apresentam tendências dessa estética nas suas obras são o norte-americano William McDonogh, o chileno Enrique Browne e o brasileiríssimo Lelé, menos conhecido como João Figueiras Lima. Se alguém lembrar de outro pode adicionar na lista!
Em maio deste ano visitei junto com colegas e professores uma “ecovila” em PoA, projetada pelo arquiteto Otávio Urquiza, que assume vários pontos da estética de que falo.

É inegável que arejar o mundo e as mentes com ideais verdes de Sustentabilide, Beleza e Ecologia são coisas boas.
Mas tem uma coisa, minha senhora: nada disso redime aquela samambaia no canto da sala!




Enrique Browne - edifício administrativo, Santiago, Chile


William McDonogh - Oberlin College, EUA

William McDonogh - Nike European Headquarters

Otávio Urquiza - Ecoovila, Porto Alegre

2 comentários:

Unknown disse...

dae tche, vou tentar dar minha contribuição.
dá uma olhada nas obras do norman foster, ele utiliza muitos conceitos desta arquitetura dita sustentável, termo que não gosto é atualmente na moda. nos emirados árabes ele vai construir uma cidade sustentável, sem utilização de veículos movidos por combustíveis fósseis, muito contraditório.

www.fosterandpartners.com

Fabrício disse...

Muito legal essa contribuição, como tu já apresentaste esses conceitos de sustentabilidade de Foster na tua pelestra sobre ele.
Creio que seus projetos sejam tão ou mais sustentáveis que os aqui citados. Mas, esteticamente, classificaria sua obra como estilo High-tech.