sábado, 15 de março de 2008

coisa de louco!


Alfred E. Neuman
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Já faz um certo tempo que a revista Mad ficou colorida. Colorida por dentro. (e isto não é metáfora!)
A revista fez muito sucesso nos anos 80 até metade dos 90 aqui no Brasil. Hoje as edições não têm qualquer regularidade e não chegam à maioria das bancas quando chegam a Santa Maria.
Ou seja: faz tempo que a Mad não dá as “caras” por aqui. Não aquela revista enjoada com foto de artista, mas a cara do personagem-símbolo da publicação: O Mad. ...aquele cara feio com o sorriso idiota e enigmático que tem um dente faltando, estampando todas as capas da revista cartunística. Seu nome “verdadeiro” é Alfred E. Neuman, o que deve ser algum trocadilho que nunca entendi.

Suspeito que tanto o uso das cores – um luxo que só encarece a revista na minha opinião – como o seu sumiço das bancas têm tudo a ver com novos tipos de concorrência.
Foi a chegada do Cartoon Network, tv a cabo e internet. O mundo de cores de um cardápio de desenho animado o dia inteiro (algo jamais visto no Xô da Xuxa!) incluídos no pacote da tv a cabo, mais a difusão da interatividade que a internet cada vez mais oferece devem ter pesado na hora da gurizada ir à banca.
Assim o humor impresso com tinta preta sobre papel barato e chinelão não conseguiu conquistar a nova geração e poupou milhares de mães de verem seus filhos “lendo aquela bobagem de novo!”
Isso tudo também é fato consumado para outras publicações humorísticas dos anos 80: chiclete com Banana, do Angeli; Striptiras, do Laerte; Planeta Diário e Casseta Popular, dos cassetas. Havia também as publicações gaúchas e santa-marienses como a Garganta do Diabo, do Grupo de Risco.

Pra se ter uma idéia dessa ditadura da interatividade é só ligar na Mtv. Os programas são todos baseados em internet e telefone (para a audiência expressar o que o canal quer que eles expressem). A identidade visual do canal é feita para se parecer ao máximo com uma tela de computador “on line”.
Nem os clipes têm trégua!! Pois para a Mtv a audiência não é capaz de ficar 3 ou 4 minutos “parada” apenas assistindo ao clipe. Isto estraga completamente a fotografia, que é o elemento mais importante artístico ou comercial de qualquer clipe do mundo.

Mas para tentar acompanhar as outra mídias, a Mad sofreu transformações de conteúdo também. Exemplos são as histórias escrotas de certos personagens lá da Mad norte-americana mas da brasileira também.
Outra mudança lamentável é o uso de palavrões na Mad (bastante difundido nas animações contemporâneas e naquele canal já citado). Pra quê tanto nome feio??? O humor bom não precisa! (O bom humor também não) Vira uma coisa sem graça cheia de palvras bagaceiras escritas e ditas explicitamente. Não sou moralista nem tenho os “ouvidinhos sensíveis demais” para isso.
Na “vida em 3D”, além das páginas e monitores, a gente fala bastante bagaceirice, mas na arte do Humor elas se banalizam. Mesmo tendo caído um pouco o nível da linguagem, acredito na qualidade e na originalidade da Mad. E acho que no Humor como na arte em geral só o que tiver qualidade, consegue dar aquele colorido à mesmice da vida quotidiana (e não me refiro às cores impressas na revista!), que é o principal objetivo de todas as artes (como estas metáforas bestas entre parênteses...)! Tá certo que existem aquelas piadas bagaceiras que nada mais são do pretextos pra falar uns troços cabeludos e cair na risada com colegas... mas isso é a mesmice! não escapa disso.

Em todas as páginas parecem prevalecer os desenhos deliberadamente toscos. Além do traço simples ser “mais leve” para despertar a graça, permite que se destaque um texto legal. E admito que a ênfase no conteúdo, nas idéias – que pra isto têm que ser boas! – sempre foi o que fez a minha cabeça.
Essa originalidade e o espírito anárquico, que publicou e publica a produção dos melhores cartunistas norte-americanos (Aragonés, Dave Berg, Al Jefre só pra citar alguns) e que no Brasil ainda é feita por muita gente boa (Ota e os outros todos – o bom mesmo é não saber de cor os nomes e sim simplesmente ter dado muitas risadas!), no seu auge de vendagem e sucesso brasieliro era o puro ouro disfarçado de lixo. Porque assim tem que ser.
Além do mais, a Mad brasileira sempre teve uma “malandragem”, um tempero, uma brasilidade que a edição “gringa” não tinha.

Mas, ao contrário da Mad, a tosquisse de certos desenhos que vêm sendo produzidos só mostra que não vale a pena caprichar no traço porque o argumento é pior ainda!
Outros desenhos, justamente por causa da interatividade que tornou mais fluida a “troca de idéias”, fazem bom uso dos traços econômicos em favor das boas idéias na tela do computador, na tv e até nos quadrinhos (que a tv ajuda a alavancar)!
Humor não tem que ser “inteligente”. Só tem que ser engraçado ...e não deprimente.

Então quando tu enxergares de novo a cara-de-pau do Neuman te espiando na banca entre o Picachu e o Homem-Aranha, vê se compra a revista!
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Ah! compra também a Quadrante X! ($$$) E não te preocupa que a Quadrante ainda não é nem colorida! ...pra não começar a desandar!

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